A partir das vivências dos moradores, analisamos os modelos de representação social do bairro Conjunto José Bonifácio na Zona Leste da cidade de São Paulo.
Se você é morador ou já morou no Bairro José Bonifácio, você também pode aqui, no final desta página, contar sua história, lembranças e recordações do bairro.
Entrevista com Danilo Pereira Cerqueira, 24 anos, aluno da Fatec- SP. Já praticou diversas atividades disponibilizadas em locais públicos do bairro e fala com muito amor de toda sua experiência na COHAB José Bonifácio.
"Meu nome é Danilo Pereira Cerqueira, tenho 24 anos, sou estudante de Gestão de Turismo daqui da FATEC SP. E... eu moro no bairro do Conjunto José Bonifácio na Zona Leste de São Paulo. Eu cheguei lá, exatamente, no dia 14 de janeiro de 2016. Eu tinha de 11 pra 12 anos. E aquele bairro foi uma expectativa de uma nova vida, porque antes eu morava em São Miguel e a vida lá era totalmente diferente com a vida que eu tenho vivido nesses 12 anos e de fato, tem sido uma coisa muita boa estar lá. Eu pude ter experiências que eu jamais teria morando em São Miguel, tudo lá é diferente. Durante esses 12 anos muita coisa aconteceu naquele bairro, inclusive, eu lembro antes da volta as aulas, em 2006 ainda, eu estava pensando, “poxa vida, esse contrato do financiamento que meus pais fizeram de 15 anos, quanta chuva eu não vou ver”, eu estava pensando isso no dia em que estava chuvoso. E, realmente, em 12 anos muita chuva tem caído e eu sempre me lembro desse detalhe. Logo que eu cheguei no bairro, eu pude notar o parque Raul Seixas, que talvez seja o principal atrativo daquele bairro, coisa que não tinha no bairro onde eu morava, pelo menos não perto do bairro onde eu morava. E..., eu percebi também que a vida em prédio é totalmente diferente de uma vida em casa, porque eu moro em bairro residencial, numa COHAB cheia de prédios. Quando eu cheguei lá eu vi muitos outros prédios sendo construídos, mas nenhum deles é propriamente da COHAB, é mais da CDHU, alguns são financiamentos da Caixa. Eu percebi o estilo de administração do governo totalmente diferente, porque a COHAB é, praticamente, toda do Estado. E é isso, eu sou muito feliz por morar lá, eu sou muito grato a Deus por ter essa oportunidade, pois quase tudo que sou hoje, veio da vida que tenho na COHAB. Se hoje eu posso falar em quatro idiomas diferentes, é graças a COHAB, porque lá eu tive oportunidade, acesso a uma escola de idiomas. Foi morando na COHAB que a situação financeira dos meus pais melhoraram, contudo, eu pude ter alguns acessos de vida que tenho hoje. Morando na COHAB que eu tive a possibilidade de fazer vários cursos que eu fiz, entre eles, estar estudando aqui na faculdade. Enfim, a COHAB representou, sem dúvida, a mudança de vida pra mim. Esse bairro é tudo de bom. Quase tudo que eu preciso eu tenho lá, principalmente, no que se refere a comércio, a escolas, essas coisas. Talvez, a única coisa boa que poderia ser acrescentado á COHAB, seria centros administrativos, tais como, banco, é... coisas do gênero, porque lá tem muitas coisas comerciais. E só pra terminar, uma coisa que eu faço questão de dizer, José Bonifácio não é Itaquera. Então, a COHAB José Bonifácio é um bairro muito bom que eu sou muito grato a Deus por poder morar lá. Tem de tudo, numa forma acessível que apesar de estar bem no fundão da zona leste (risos), digamos assim, a acessibilidade até o centro é muito rápida, pois lá tem a estação José Bonifácio da Linha 11- Coral da CPTM que acessando essa estação, eu consigo chegar ao centro no prazo de 25 minutos, 30 minutos. É... e próximo a essa estação José Bonifácio, tem a praça Brasil. Essa praça, ela é muito importante para o bairro, foi construída junto com o próprio bairro. E uma vez eu estava fazendo um roteiro turístico para uma organização histórica, estava falando do meu próprio bairro mesmo, o guia de turismo dizia que uma poetisa brasileira escreveu um poema sobre a praça Brasil, e..., as vezes eu perco até a palavra de dizer o quanto... qual a importância da COHAB para o Brasil. É tão conhecida pelo Brasil a fora e muitos moradores de lá nem sabem disso. Ao lado da praça Brasil, bem do lado mesmo, tem uma Associação Esportiva, talvez um dos únicos pontos daquele bairro que é administrado pela Prefeitura, tem uma Associação. Essa Associação é conhecida pelas atividades desportivas. Quando eu tinha 16 anos, eu jogava tênis lá, mas por estar estudando italiano na mesma época e devido a um problema de horário, eu tive que abrir mão do jogo de tênis para poder continuar estudando italiano, mas, atualmente, lá eu treino Jiu-Jitsu. E além dessa Associação, o bairro tem o privilégio de ter duas bibliotecas, a Biblioteca Vicente de Carvalho e Vinicius de Moraes. Eu lembro quando eu era adolescente, eu visitava, principalmente, a Biblioteca Vinicius de Moraes para fazer os trabalhos de escola, né, na época eu ainda num tinha acessibilidade a computador, a internet. É... e é isso. Também tem um asilo que fica entre duas escolas, uma dessas escolas foi a qual eu estudei da sexta série até o ensino médio. Esse asilo é administrado por uma..., uma das duas paróquias lá do bairro., principalmente, pelas freiras que tomam ali de conta. Como eu também já havia dito, tem o Parque, o Parque Raul Seixas, é um dos menores parques da cidade, porém nesse parque ocorrem diversas atividades. Todo domingo ocorrem shows, ocorrem saraus, tudo isso realizado por artistas do próprio bairro mesmo. E foi nesse Parque também que eu fiz um curso de teatro, quando eu tinha 17 anos. Ao lado do Parque tem uma escola chamado Flado Haidar, e... é uma escola que na época tinha Fundamental – Ciclo II e Ensino Médio, mas também tem uma parte que é voltada para idiomas, foi lá que eu pude estudar tanto italiano quanto alemão. E, ainda nesse bairro, mas já fica bem distante da COHAB, tem o Aquário da Jacu Pêssego, ele é muito conhecido, porque tem o aquário, mas também são vendidas bastantes coisas para animais domésticos e também tem um parque de diversão ali dentro. E essa é a minha amada COHAB."
Entrevista com João Evangelista de Souza, 73 anos. Mora no bairro, aproximadamente, 35 anos, ele nos conta as mudanças que ocorreram no bairro, seu desenvolvimento e como se apropria do espaço disponível a comunidade.
"Moro aqui há anos, né, com 73 anos, moro aqui com mais ou menos 35 anos. No Carmosina. E frequento aqui desde 2008, mais ou menos. Gosto do bairro, gosto do parque. Me sentindo bem aqui. O senhor traz a sua família até aqui? O senhor vem nos finais de semana também? Trago meus netinhos, venho até aqui, aí eles brincam aqui. Dá um toque pra mim que eu vou (ele faz um aceno como quem diz para lembrar de algo). Eles vêm aqui, brincam ali na balança. No coreto, aqui, tem sempre um pessoal aqui, que a gente vem com eles aqui pra brincar com bola, brincam com boneco, né. Ali também, na Casa Raul Seixas. E a gente fica aqui até..., vai das 7, 8 da manhã, ficamos aqui até 3, 4 horas da tarde. Aqui tem muita criança, muito bom. O senhor acha o comércio aqui da região é um comércio bom? O senhor tem que andar por muito tempo para chegar em algum lugar? O comercio é tudo aqui perto, deste lado aqui tem o mercado, à direita aqui tem o mercado. Na (rua) de cima tem as lojas, inclusive, tem umas lojas que tem conhecidos aqui que caminham junto aqui (no parque), eles têm loja ao lado aqui, lá em cima. Então tudo bem! O senhor se lembra de como era o bairro quando veio morar aqui? Lá no comecinho quando o senhor veio morar aqui no bairro, o senhor se lembra? Aqui era só..., era mais pasto, pasto com animal, essas coisas. Lá em cima, o morro de cima lá, era muita chácara e tinha bastante... Tinha gado também, ali, ele levava leite, vendia. Quem fala mais é minha esposa mesmo que ela comprava aqui. Lá em cima e ali embaixo pra comprar. Aqui na margem, na Estrada do Pêssego, ali tinha bastante japoneses que tinha horta, plantava muita verdura, e... frangos, ela descia pra fazer a compra, então, nessa época eu trabalhava, empregado. Eu saía de manhã e voltava sempre a tarde, à noite."
Entrevista com Iara de Souza, 66. Mora no bairro desde quando começou a ocorrer as transformações estruturais. Ela nos conta sua trajetória de vida até a chegada a José Bonifácio, como acompanhou as transformações ocorridas no bairro e que atualmente junto com sua família também se apropria dos espaços disponíveis a comunidade.
"Tenho 66 anos e moro aqui desde que, praticamente, foi fundado a COHAB. E vim pra cá, tinha meus filhos pequenos, foram todos criados aqui, quatro filhos, duas mulheres e dois homens. Vim com a minha mãe, meu padrasto e meu marido. Estamos aqui até hoje, né. E assim, não tenho o que dizer, o que falar de ruim, porque foi evoluindo, a gente foi vendo a evolução do bairro, foi muito bom, muito bom. Como era o bairro quando a senhora chegou aqui? Quando eu cheguei aqui só tinham os prédios, né, que estavam entregando os apartamentos. Então, as ruas tinham algumas que ainda eram de terra, não estavam todas asfaltadas, não tínhamos comércio assim perto, né, não tinha. Tinha as peruas que vendiam pão, uma coisa assim. Mercado aqui o que a gente tinha era, o que hoje é o Lopes, antigo Morita, dessa época. Então, quando tinha que fazer compra, todo mundo ia no Morita (risos). Ai que foi crescendo, e crescendo devagar, foi movimentando aqui o parque, foi, teve uma evolução maravilhosa. E a gente trazia as crianças, ainda tinha o mato, né, essas coisas e foi crescendo, foram... consertando tudo e hoje é uma maravilha. E hoje estamos aqui. Minha rua agora, nós temos mercados, tem Lopes, tem o Lopes, tem Negreiros, tem o Extra, né, tem o Ita aqui perto, outro grande lá em cima. Então ficou muito bom, muito bom, muitas lojas. A senhora acha esse bairro um bairro acessível? Como foram os transportes aqui no bairro? Com certeza! O transporte aqui nos começos aqui era muito ruim, muito ruim. Depois foi até que rápido pro transporte começar a melhorar e melhorou bastante, é super acessível, né, porque daqui nós temos 15 minutos do metrô, né. Então, temos aqui a Dom Bosco, é o trem, é, são todas as benfeitorias que serviu muito pro povo aqui, né, pra todos que viemos de outros lugares, né, pra cá, então... E com relação ao parque, você pratica alguma atividade? Não, eu nem tenho tempo, eu trabalho, então, é difícil pra mim é meio difícil, mas minha turminha aqui, olha, foi muito bom. Meus irmãos constituíram família, né. Tenho um irmão que, inclusive, faleceu, que era o caçula, mas os filhos dele, todos nasceram aqui, né. E o outro também, mais velho, todos nasc... dele, que ele só tem uma menina, né, que nasceu aqui também. Se casaram aqui, nasceu os filhos aqui. Eu já vim casada e com filhos (risos), mas eles casaram aqui mesmo. Eu tenho toda a minha família, todas por aqui. Tenho primas, tenho sobrinhas, tenho cunhadas, tenho irmão tudo aqui mesmo, a gente, foi pra nós... Então como eu estava dizendo do parque, eles frequentam tudo aqui, né, meus netos hoje saem lá de casa, “onde ‘cê vai?”, “vou pro parque” (risos), só procurar que eles estão: um aqui, outro lá, tudo esparramado por aí, né. E tem meus netos que nasceram por aqui também. É bom, é, assim... dizer do parque é uma maravilha, porque nós temos uma área verde, temos as coisas boas das atividades, tem... tudo."
Entrevista com Tamires Silva dos Santos, 25. Mora no bairro há 25 anos, nos conta que cresceu nesta região e atualmente leva seu filho aos espaços de lazer disponíveis a comunidade.
"Acho aqui (Parque Raul Seixas) bem acessível, acho aqui bem legal, esse parque aqui, faz muito tempo, eu venho aqui desde criança, agora, eu trago meu filho. É... eu sempre estudei aqui, mas não aqui perto do parque, mas aqui no bairro. E eu acho que bastante coisa já mudou aqui no bairro, né, coisas boas, e outras precisam melhorar, principalmente, o parque, assim, eu acho que os brinquedos... teria que ter uma manutenção nos brinquedos, principalmente, naqueles trepa-trepa ali, as crianças podem se machucar. Agora os matinhos estão cortados, mas tinha, até um tempo, não dava nem pra trazer as crianças, porque era muito mato, não dava nem pra brincar. Você acha uma região acessível? Tem bastante transporte? É muito longe uma coisa da outra? Não, eu acho bem acessível assim, mercado... as coisas sempre perto uma da outra, escola tem bastante. Eu pelo menos gosto do bairro, eu gosto, acho o bairro bem acessível. Tem acesso ao metrô, o metrô é perto, tem sempre bastante ônibus. Eu acho acessível. E a questão das atividades? Você já fez algum tipo? Do parque, acho legal, sempre tem show, tem teatro pras crianças, eu acho bacana."
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